Dona Zuleica: Você viu que o pombo da praça tá mancando? Aposto que ele brigou com aquele pardal encrenqueiro da esquina.
Dona Gertrudes: Brigou nada, Zuleica! Aquilo é reumatismo. Igualzinho ao do meu joelho. Pombo velho tem dor nas juntas também.
Dona Zuleica: Reumatismo? Mas ele voa! Eu não consigo nem subir no ônibus sem parecer que tô dançando forró com o corrimão.
Dona Gertrudes: Falando em forró, você lembra do Tonhão do açougue? Disse que ia virar dançarino profissional. Acabou vendendo linguiça no TikTok.
Dona Zuleica: Linguiça gourmet, Gertrudes. Com ervas finas e cheiro de perfume francês. Eu comprei uma e meu gato desmaiou.
Dona Gertrudes: Seu gato desmaiou porque ele é dramático. Igual você quando vê uma barata. Aquela vez que você gritou “É o fim!” e pulou dentro da geladeira…
Dona Zuleica: Era uma barata voadora, Gertrudes. Isso é terrorismo doméstico. Eu devia ter chamado a ONU.
Dona Gertrudes: A ONU não atende mais você desde que você mandou aquele e-mail pedindo ajuda pra plantar couve no vaso sanitário.
Dona Zuleica: E funcionou! A couve cresceu, só que o vaso entupiu. Agora uso como cachepô. Chique, né?
Dona Gertrudes: Chique é você achar que o pombo é seu parente. Ontem você chamou ele de “Tio Alfredo”.
Dona Zuleica: E ele respondeu com um cocô bem direcionado. Isso é afeto na linguagem dos pombos